TONI SCIARRETTA
CLAUDIA ROLLI
DE SÃO PAULO
Antes restrito a classes de maior renda e a floriculturas principalmente do Sudeste do país, o consumo de flores e plantas se popularizou no Brasil e chegou às gôndolas dos supermercados.
É um mercado que cresce entre 15% e 17% ao ano, segundo o Ibraflor ( Instituto Brasileiro de Floricultura).
Empresas de varejo fazem investimentos no setor, ampliam centros logísticos para incrementar a distribuição e adotam políticas mais agressivas para baratear os preços.
A ação já atingiu o bolso do consumidor, que viu nos supermercados preços até 50% menores do que os das floriculturas — mais procuradas no caso de presentes e por oferecer o serviço de entrega.
O consumo médio por habitante no Brasil passou de R$ 14 para R$ 23 no ano passado. Mesmo assim, o número ainda passa longe do mercado europeu — cada pessoa desembolsa R$ 140 por ano.
Apesar de o consumo se expandir e dos investimentos feitos, a distribuição de flores e plantas ainda esbarra nos gargalos da logística do país. Dos mais tradicionais, como estradas ruins, pontes deficientes, filas imensas nos postos de pesagem e barreiras policiais para conferência de carga; até os mais inusitados, como pedágios indígenas ( leia texto abaixo).
LOGÍSTICA COMPLEXA
Item frágil, as plantas e as flores de corte são acondicionadas em caminhões refrigerados, isoladas da luz, mantidas em gel ( a água evapora e derrama quando o caminhão passa nos buracos) para cruzar até 3.250 km entre Holambra ( SP) até Fortaleza ( CE).
A maior dificuldade, ao atravessar oito Estados, é evitar que elas se quebrem, o que é resolvido com bandejas que parecem caixas gigantes de ovos para acondicionar os vasos. Os engradados são envolvidos em filmes plásticos para impedir a quebra das folhagens e flores na viagem.
Um dos maiores compradores de flores do país, o Grupo Pão de Açúcar vai duplicar neste ano seu centro de distribuição em Holambra, que concentra a produção organizada em cooperativas de pequenos produtores. Nesse local, a ordem é não deixar nenhum produto mais de 24 horas para ser despachado.
“Distribuir flor é um caso de extrema dificuldade logística. Só perde para o salmão, que tem de ser transportado de avião”, afirma Marcelo Lopes, diretor de logística do Grupo Pão de Açúcar.
As vendas de flores no grupo cresceram mais de 50% nos últimos três anos, e os preços unitários foram diminuindo devido a compras em maior quantidade, investimentos para evitar perdas e eficiência na distribuição.
DESTAQUE VERDE
Não é à toa que o varejo tirou flores e plantas do fundo das lojas para espaços nobres na entrada.
O Pão de Açúcar coloca flores de corte e vasos plantados ainda do lado de fora do supermercado. “É o cartão de visitas da loja”, disse Lopes.
“O consumidor encontra na entrada um produto com qualidade, preço e frescor, além de sortimento”, diz Luciana Galli, gerente comercial do Walmart. A varejista relata um crescimento de 50% nas vendas de orquídeas e decidiu ampliar o sortimento.
O Carrefour destaca cada vez mais as plantas e flores entre os produtos comercializados. “O preço permite atingir o público de consumidores da classe C, que está mais preocupado em decorar a casa e presentear.”
Consumidores da classe C, solteiros e casados, incluem flores em suas compras, segundo as redes consultadas.
O Ibraflor já identificou aumento no número de variedades oferecidas no mercado — passou de 2.500 para 3.000 no ano passado.
Entre as flores mais procuradas na prateleira dos três supermercados estão violetas, calandivas, kalanchoe, raphis, bonsai e orquídeas. Tuias, rosas e crisântemos estão na lista das mais compradas em datas como Natal, Dia das Mães, Dia dos Namorados e Finados.
De olho nesse mercado, o varejista suíço Landi Schweiz, do segmento de jardinagem e decoração, vem ao Brasil amanhã em busca de parceiros e fornecedores. A rede, que atua ainda na Alemanha e Áustria, prevê investir € 30 milhões até 2015 no país.
Fonte: Folha de S.Paulo - Domingo, 07 de Abril de 2013. |